Desde o seu desenvolvimento no Reino de Ryukyu (em cuja região hoje se localiza a prefeitura japonesa de Okinawa) até os tempos atuais, a arte marcial que hoje conhecemos como “karate” passou por grandes transformações.

Originalmente, ela consistia em um sistema completo de tradições, conhecimentos, métodos e técnicas altamente eficazes para luta corporal e preservação da vida dos praticantes e daspessoas protegidas por eles. Esse sistema, até então transmitido apenas em segredo para pouquíssimas pessoas, a partir do início do século XX passou a ser ensinado para grandes grupos de alunos – e tornou-se uma das artes marciais mais praticadas do mundo. No entanto, juntamente com a massificação do karate, grande parte de seus ensinamentos originais foram distorcidos, mal transmitidos para os alunos e futuros instrutores, ou mesmo esquecidos (às vezes perdidos em segredos que não foram passados adiante). Como resultado, a forma moderna hoje ensinada na maioria das escolas é completamente diferente do karate antigo, em quase todos os aspectos da arte.

Muitos adeptos do karate entenderam essas mudanças como naturais e inevitáveis, e que não havia motivo para preocupação, pois para eles os conhecimentos antigos eram desnecessários no mundo moderno – e a transformação do karate em um mero esporte de luta e budo moderno seria uma transformação inevitável e até desejável. Assim, hoje a maioria dos praticantes e até mesmo instrutores simplesmente não conhece (ou não se importa com) o fato de que o karate que eles aprenderam e por vezes ensinam é muitíssimo diferente da arte marcial antiga de Okinawa (isso embora vários mestres antigos tenham atestado e enfatizado essas grandes diferenças).

Mas nem todos ficaram conformados com o abandono do karate antigo e do poder de luta original da arte. Ao longo do século XX e principalmente nas últimas décadas, mestres de karate em Okinawa, bem como estudiosos de todo o mundo, iniciaram um esforço para redescobrir o karate antigo. Muitos passaram a viajar para a região onde o karate nasceu, a estudar os documentos remanescentes e a aprender com os mestres locais. Vários desses mestres finalmente decidiram ensinar abertamente informações que até então eram transmitidos para poucos – para assim garantir que o conhecimento não morresse, e para reverter o processo de desfiguração que a arte sofreu. Esse movimento tomou grandes proporções nos últimos anos, impulsionado pela revolução das comunicações e pelo trabalho árduo de pesquisadores determinados.

Foi nesse contexto que o pesquisador brasileiro Samir Berardo fundou o Muidokan Karate Kenkyukai – uma sociedade de praticantes apaixonados por essa arte marcial, com o objetivo de pesquisar, praticar, preservar e promover o karate na sua forma e fundamentos originais, como arte de autodefesa e preservação da vida. Essa sociedade desenvolve projetos de pesquisa e oferece ao público conteúdos que levam uma maior compreensão do karate antigo – tudo com o mais profundo respeito por cada uma das pessoas que se dedicam e se dedicaram ao karate e pelo público em geral. O Muidokan também mantém contato e intercâmbios com grandes instrutores, pesquisadores e praticantes do mundo, e desenvolve projeto inédito e notável para resgate dos fundamentos originais da arte, especialmente na área que provavelmente é a mais fascinante e mal compreendida no karate – o estudo do kata, do seu significado e aplicações de luta (estudo popularmente conhecido como bunkai).

Com esse fenômeno mundial, o karate está passando hoje por uma verdadeira revolução e um retorno às suas origens, e o Muidokan, seus associados e apoiadores fazem parte dessa revolução.

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